terça-feira, 1 de julho de 2008

Felicidade e um buquê de girassóis

"Agora, agora vou ser feliz, pensava o tempo todo numa certeza histérica."
Os Dragões não conhecem o paraíso - Caio Fernando Abreu.

Primeiro achava que quando crescesse seria feliz. Cresceu. Achou que talvez quando saísse da escola infantil seria feliz então. E foi para a o ensino fundamental. Começou a pensar que era problema de criança, e na adolescência tudo mudaria. "Adolesceu"... No convívio com as belíssimas amigas sempre bem vestidas e impecavelmente na moda e mostrando insistentemente o quanto ela era ridícula, cafona e patética andando fora da moda e com o cabelo pixaim que nunca tinha visto uma escova ou prancha, sem uma maquiagem nem um salto nos pés, descobriu que alí com aquelas monstras não seria feliz. Talvez quando alguém gostar de mim assim ou estudar a noite. Namorou e estudou a noite. "Quando me formar, serei feliz", insistiu. Formou-se em contabilidade, apesar de querer informática e web design... Quando começar a trabalhar vai ser diferente. E trabalhou, e trabalhou, e trabalhou, trabalhou, trabalhou, trabalhotrabalhotrabalhotrabalhotrabalho... Dormia no horário do almoço, engolia a comida no horário que sobrava, corria para o trabalho "eu moro só a cinco minutos daqui, não será necessário vale transporte". Decididamente, não, não, não era aquilo. Precisava ser feliz. Decidiu se casar. Casou. Agora eu vou ser feliz, vou ser feliz, vou ser feliz, ser feliz, ser feliz feliz feliz feliz... insistia consigo como num mantra, entorpecente, alucinógeno, tentando convencer a si mesma... vou ser feliz. Vou ser quando tiver um filho. E não teve o primeiro. E pensou que não seria feliz. Veio o segundo. E foi quase feliz. Quando eu trabalhar novamente vou ser feliz, já tenho casa, marido, filho, é o que falta. E trabalhou novamente, e trabalhou em outros lugares, e foi doceira, secretária, sacoleira, atendente, boleira, bordadeira, vendendora, animadora de festa, babá, babá de cachorro, fazia pesquisas para os colegas, dava aulas particulares, i can, i can, i can't get no satisfaction... Fez terapia de grupo, resolveu fazer teatro. Virou profissão. E ainda assim não veio. Internet, mil e-mails, milhares de contatos, amigos, amores, vidas... Não, virtual demais. A felicidade era concreta, tinha certeza e ia ver, ia sentir, ia ter a qualquer custo. E viajou, e procurou, e tentou desesperadamente até que se desesperou: não existe! É impossível, é intocável, não é pra mim, não me pertence, não me quer, não posso ter, não me quer, não me quer. Foda-se. Passa os dias olhando pela janela os pobres mortais lá embaixo na mesma procura da tal felicidade. Algumas vezes pensou em se jogar, outras vezes apenas pensou em cortar os pulsos, tomar alguns vidros de comprimidos com bebida ou se jogar na frente de algum carro. Depois desejava que alguém morresse. E de forma cruel e lenta e dolorosa e maquiavélica e torturante. E achava que era pecado e pensava em morrer novamente, mas também era pecado. Mas só pensava, e ria dos desejos mórbidos. Resolveu viver apenas, deixou as coisas irem acontecendo. E passou a olhar mais a sua volta. E até pode sorrir as vezes apesar de alguma dor. A felicidade é só um cheiro... Ela vem, eu sinto, até quase posso tocar, mas ela vai, num ciclo... e volta... As vezes vem mansinha, as vezes chega como uma tempestade e vai e volta e vai... Suspira e volta a sorrir e olhando a vida pela janela. As vezes pensa que está louca, outras vezes quase tem certeza. E ri...

Hoje ela só quer um buquê de girassóis numa tarde qualquer com um bilhete anônimo: Goste de você. Goste muito de você. Ame você.

E foi feliz até o próximo momento...

Um comentário:

Tiu NiN disse...

PUTA Q PARIU... Muito doido o texto @____@ faz pensar, faz viajar, faz flutuar... hihihi... o mais legal e chegar ao final e ver a foto do buquê de girassois q vc fikou 2 dias colocando no fundo preto, coisa q no photoshop dura uns 3 min AUHSUAHSUAHUAHAUSH'